domingo, 18 de março de 2012

Março de 2012 - VALTER HUGO MÃE


A máquina de fazer espanhóis
La máquina de hacer españoles

Encuentro del 10 de abril


                                   

A máquina de fazer espanhóis é um livro que fala da velhice, da amizade, do amor e também de Portugal, de religião, de futebol e de metafísica.

Personagens como o Sr. Silva, Américo, Anísio, Pereira, Esteves, Dona Leopoldina e Dona Marta nos fazem chorar e rir a gargalhadas num mesmo capítulo.
O romance gera uma profunda reflexão sobre a velhice e nos faz vivenciar o dia-a-dia do lar Feliz Idade.

“Um problema com o ser velho é o de julgarem que ainda devemos aprender coisas quando,
na verdade, estamos a desaprendê-las, e faz todo o sentido que assim seja
para que nos afundemos inconscientemente na iminência do desaparecimento.
A inconsciência apaga as dores, claro, e apaga as alegrias,
mas já não são muitas as alegrias e no resultado da conta é bem visto que a cabeça dos velhos se destitua da razão para que, tão de frente à morte, não entremos em pânico.” (Cap. 3)

O livro está escrito em letras minúsculas, segundo o autor por uma questão de "humildade gráfica", com exceção dos capítulos 5 (Teófilo Cubillas) e 17 (A máquina de fazer espanhóis)

La máquina de hacer españoles nos habla de la vejez, de la amistad, del amor y también de Portugal, de religión, de fútbol y de metafísica.
Personajes como el Sr. Silva, Américo, Anísio, Pereira, Esteves, Doña Leopoldina y Doña Marta nos hacen llorar y reir a carcajadas en un mismo capítulo.
La novela genera una profunda reflexión sobre la vejez y nos sumerge en el día a día del hogar Feliz Idade (Feliz edad).

“un problema con el ser viejo es el de juzgar que todavía debemos aprender cosas cuando,
en verdad, estamos para desaprenderlas, y tiene todo sentido que así sea
para que nos hundamos inconscientemente en la inminencia del desaparecimiento.
la inconsciencia borra los dolores, claro, y borra las alegrías, pero ya no son muchas las alegrías y en el resultado de la cuenta es bien visto que la cabeza de los viejos se destituya de la razón para que, tan de frente a la muerte, no entremos en pánico.” (Cap. 3)

El libro está escrito en letras minúsculas, según dijo el autor, por una cuestión de "humildad gráfica", con excepción de los capítulos 5 (Teófilo Cubillas) y 17 (La máquina de hacer españoles.)

É interessante a relação que o autor constrói entre a ditadura e a velhice. De um lado, a perda da liberdade como cidadão e, do outro, as limitações físicas e mentais impostas pelo passo do tempo.

“O estupor da ditadura. A ditadura é que os quis pôr a todos rasos como as tábuas, sem nada lá dentro, apenas o andamento quase mecânico de cumprir uma função e bico calado. A ditadura, colega silva, a ditadura é que foi uma terrível máquina de robar
a metafísica aos homens.” Cap. 13

 
Es interesante la relación que el autor construye entre la dictadura y la vejez. De un lado, la falta de libertad como ciudadano y,  del otro, las limitaciones físicas y mentales impuestas por el paso del tiempo.

“el estupor de la dictadura. la dictadura es la que nos quiso poner a todos rasos como las tablas,
sin nada ahí dentro, apenas la marcha casi mecánica de cumplir una función y pico callado.
la dictadura, compañero silva, fue una terrible máquina de robarle
la metafísica a los hombres.” Cap. 13

Conversamos sobre religião e também sobre a relação do Sr. Silva com a estatueta da Virgem de Fátima (Mariazinha e suas pombinhas.)

“deus é uma cobiça que temos dentro de nós. é um modo de querermos tudo. de não nos bastarmos com o que é garantido e já tão abundante. deus é uma inveja pelo que imaginamos. como se não fosse suficiente tanto quanto se nos põe diante durante a vida. queremos mais, queremos sempre mais, até o que não existe nem vai existir. e também inventamos deus porque temos de nos policiar uns aos outros, é verdade. é tão mais fácil gerir os vizinhos se compactuarmos com a hipótese de existir um indivíduo sem corpo que atravessa as casas e escuta tudo quanto dizemos e vê tudo quanto fazemos. é tão mais fácil se esta ideia é vendida a cada pessoa com a agravante de se lhe dizer que, um dia quando morrer, esse mesmo sinistro ser virá ao seu encontro para o punir ou premiar pelo comportamento que houver tido em todo o tempo que gastou. e a comunidade respira mais alívio por saber que assim estamos todos policiados da melhor maneira, temos um polícia dentro de nós, um que sendo só nosso também é dos outros e, a cada passo, pode debitar-nos ou acusar-nos e terminar o nosso percurso com facilidade.” (Cap.18)

Conversamos sobre religión y también sobre la relación del Sr. Silva con la estatuilla de la Virgen de Fátima. (Maria y sus palomitas)
“dios es una codicia que tenemos dentro. es un modo de querer todo. de que no nos baste lo que está garantizado y es ya tan abundante. Dios es una envidia por lo que imaginamos. como si no fuera suficiente tanto cuanto se nos pone enfrente durante la vida. queremos más, queremos siempre más, hasta lo que no existe ni va a existir. y también inventamos dios porque tenemos que vigilarnos unos a los otros, es verdad. es tanto más fácil dirigir los vecinos si convenimos con la hipótesis de que existe un individuo con cuerpo que atraviesa las casas y escucha todo lo que decimos y ve todo lo que hacemos. es tanto más fácil si esta idea es vendida a cada persona con el agravante  de decirle que, un día cuando muera, ese mismo ser siniestro vendrá a su encuentro para castigar o premiar el comportamiento que tuvo en todo el tiempo que gastó. y la comunidad respira más alivio por saber que así estamos todos vigilados de la mejor manera, tenemos un vigilante dentro de nosotros, uno que siendo sólo nuestro también es de los otros y, a cada paso, puede debitarnos o acusarnos y terminar nuestro trayecto con facilidad.” Cap 18.

Compartilhamos o link que nossa amiga Myriam nos enviou com comentários sobre o livro: http://old.kaosenlared.net/noticia/a-maquina-de-fazer-espanhois

“A assertiva de Hugo Mãe no capítulo 19 - "fomos sempre um povo de caminhos salgados, isto é coisa para nos amargar o sangue" - mostra que o fado não nasceu por acaso e que só existe uma palavra (angústia, a última do livro) capaz de resumir o drama de uma nação que, a exemplo do velho Antonio, resignou-se ao trágico destino de um asilo do qual só sairá para o mundo dos espectros, futuro que pode esperar Portugal se não conseguir pagar suas dívidas. a máquina de fazer espanhóis é, portanto, um livro fatalista, construído com sintaxe convulsiva, prejudicada à vezes pela metaforização excessiva da situação do pobre Antonio Jorge da Silva, sempre associado à queda livre de Portugal - provocada, em parte, pela ideia de que nada muda, nem mesmo os sobrenomes. [...]
O uso de figuras míticas como Salazar e da eterna rivalidade futebolística entre o Porto e o Benfica serve para traduzir esse drama nacional da perda - da juventude, do poder, da própria identidade. Mas Hugo Mãe fez melhor em o remorso de Baltazar Serapião, ao escancarar a persistência de um certo arcaísmo na sociedade portuguesa, com um pé fincado numa realidade agrária, ancestral, e outro na modernidade européia.”


A máquina de fazer espanhóis é um livro fantástico.
Se ainda não leu corra à livraria!
La máquina de hacer españoles es un libro fantástico.
Si todavía no lo leiste corré a buscarlo!

Teófilo Cubillas
(Para imaginar o poster da Dona Leopoldina)
(Para quien quiera imaginar el poster de Doña Leooldina)


FRASES:
(Como não foi possivel conseguir no Brasil o livro em espanhol, os trechos a seguir foram traduzidos por nós.)
(Como en Brasil no fue posible encontrar el libro en castellano las siguientes frases fueron traducidas por nosotras.)

“não a posso deixar aqui sozinha. não estaria sozinha. estaria sozinha de mim, que é a solidão que me interessa e a de que tenho medo.”

“no la puedo dejar aqui sola. no estaría sola. estaría sola de mí, que es la soledad que me interesa y de la que tengo miedo.” Cap. 1

“assim é o amor, uma estupidez intermitente mas universal. toca a todos.”

“así es el amor, uma estupidez intermitente pero universal. nos toca a todos.” Cap. 3

 


"procurou um silêncio como uma folha muito limpa onde pudesse escrever uma frase mais digna e disse, um dia essa saudade vai ser benigna. a lembrança da sua esposa vai trazer-lhe um sorriso aos lábios porque é isso que a saudade faz, constrói uma memória que nós nos orgulhamos de guardar, como um trofeu de vida. um dia, senhor silva, a sua esposa vai ser uma memória que já não doi e que lhe traz apenas felicidade. a felicidade de ter partilhado consigo um amor incrível que não pode mais fa-zêlo sofrer, apenas leva-lo 'a glória de o ter vivido, de o ter merecido."




“buscó un silencio como uma hoja muy limpia donde se pudiese escribir una frase más digna y dijo, un día esa añoranza va a ser benigna. el recuerdo de su esposa le va traer una sonrisa a los labios porque es eso lo que la nostalgia hace, construye una memoria que nos orgullecemos de guardar, como un trofeo de vida. un día, señor silva, su esposa va a ser una memoria que ya no duele y que le trae apenas felicidad. la felicidad de haber compartido consigo un amor increíble que no puede hacerlo sufrir más, apenas llevarlo a la gloria de haberlo vivido, de haberlo merecido.” Cap. 6

"histórias bonitas aconteciam por acaso, e eu acabara de aprender que a vida tem que ser mais à deriva, mais ao acaso, porque quem se guarda de tudo foge de tudo."

“historias bonitas sucedían por casualidad, y yo acabé aprendiendo que la vida tiene que ser más a la deriva, más de casualidad, porque quien se protege de todo huye de todo.” Cap. 22

"estava no ponto peixe. o glorioso ponto peixe a partir do qual o destino nos começa a ser irrelevante. encaramos as coisas com o mesmo drama com que em segundos o esquecemos e nos esperançamos de alegria por outro motivo qualquer, sem saber por quê.”

“estaba en el punto pez. el glorioso punto pez a partir del cual el destino comienza a sernos irrelevante. encaramos las cosas con el mismo drama con que en segundos las olvidamos y nos esperanzamos de alegría por otro motivo cualquiera, sin saber por qué. Cap. 22

“nunca eu teria percebido a vulnerabilidade a que um homem chega perante outro. nunca teria percebido como um estranho nos pode pertencer, fazendo-nos falta. não era nada esperada aquela constatação de que a família vinha também de fora do sangue, de fora do amor ou que o amor podia ser outra coisa, como uma energia entre pessoas, indistintamente, um respeito e um cuidado pelas pessoas todas.
 
“nunca hubiera percibido la vulnerabilidad a la que un hombre llega delante de otro. nunca hubiera percibido como un extraño nos puede pertenecer, haciéndonos falta. no era nada esperada aquella constatación de que la familia venía también de afuera de la sangre, de afuera del amor o que el amor podía ser otra cosa, como una energía entre personas, indistintamente, un respeto y un cuidado por todas las personas.” (Cap. 22)





VALTER HUGO MÃE


Nasceu em Angola, em 1971. Vencedor do Prêmio José Saramago em 2007.
Valter também é poeta, artista plástico, DJ, vocalista da banda de rock Governo e editor.

Nació en Angola, en 1971. Vencedor del Premio literário José Saramago en 2007.
Valter es también poeta, artista plástico, DJ, vocalista de la banda de rock Governo y editor.
 


Um trecho do livro.


Valter Hugo en español

Poema de Fernando Pessoa do Sr. Esteves sem metafísica. (Capítulo 4)

TABACARIA
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos,15-1-1928 (Heterónimo de Fernando Pessoa) 


Fernando Pessoa


Poema de Fernando Pessoa donde aparece el Sr. Esteves sin metafísica. (Capítulo 4)

Tabaquería
No soy nada.
Nunca seré nada.
No puedo querer ser nada.
Aparte de esto, tengo en mí todos los sueños del mundo.

Ventanas de mi cuarto,
de mi cuarto de uno de los millones de gente que nadie sabe quién es
(y si supiesen quién es, ¿qué sabrían?),
dais al misterio de una calle constantemente cruzada por la gente,
a una calle inaccesible a todos los pensamientos,
real, imposiblemente real, evidente, desconocidamente evidente,
con el misterio de las cosas por lo bajo de las piedras y los seres,
con la muerte poniendo humedad en las paredes y cabellos blancos en los hombres,
con el Destino conduciendo el carro de todo por la carretera de nada.

Hoy estoy vencido, como si supiera la verdad.
Hoy estoy lúcido, como si estuviese a punto de morirme
y no tuviese otra fraternidad con las cosas
que una despedida, volviéndose esta casa y este lado de la calle
la fila de vagones de un tren, y una partida pintada
desde dentro de mi cabeza,
y una sacudida de mis nervios y un crujir de huesos a la ida.

Hoy me siento perplejo, como quien ha pensado y opinado y olvidado.
Hoy estoy dividido entre la lealtad que le debo
a la tabaquería del otro lado de la calle, como cosa real por fuera,
y a la sensación de que todo es sueño, como cosa real por dentro.

He fracasado en todo.
Como no me hice ningún propósito, quizá todo no fuese nada.
El aprendizaje que me impartieron,
me apeé por la ventana de las traseras de la casa.
Me fui al campo con grandes proyectos.
Pero sólo encontré allí hierbas y árboles,
y cuando había gente era igual que la otra.
Me aparto de la ventana, me siento en una silla. ¿En qué voy a pensar?
¿Qué sé yo del que seré, yo que no sé lo que soy?
¿Ser lo que pienso? Pero ¡pienso ser tantas cosas!
¡Y hay tantos que piensan ser lo mismo que no puede haber tantos!
¿Un genio? En este momento
Cien mil cerebros se juzgan en sueños genios como yo,
y la historia no distinguirá, ¿quién sabe?, ni a uno,
ni habrá sino estiércol de tantas conquistas futuras.
No, no creo en mí.
¡En todos los manicomios hay locos perdidos con tantas convicciones!
Yo, que no tengo ninguna convicción, ¿soy más convincente o menos convincente?

No, ni en mí...
¿En cuántas buhardillas y no buhardillas del mundo
no hay en estos momentos genios-para-sí-mismos soñando?
¿Cuántas aspiraciones altas y nobles y lúcidas
-sí, verdaderamente altas y nobles y lúcidas-,
y quién sabe si realizables, no verán nunca la luz del sol verdadero
ni encontrarán quien les preste oídos?
El mundo es para quien nace para conquistarlo
y no para quien sueña que puede conquistarlo, aunque tenga razón.
He soñado más que lo que hizo Napoleón.
He estrechado contra el pecho hipotético más humanidades que Cristo,
he pensado en secreto filosofías que ningún Kant ha escrito.
Pero soy, y quizá lo sea siempre, el de la buhardilla,
aunque no viva en ella;
seré siempre el que no ha nacido para eso;
seré siempre el que tenía condiciones;
seré siempre el que esperó que le abriesen la puerta al pie de una pared sin puerta
y cantó la canción del Infinito en un gallinero,
y oyó la voz de Dios en un pozo tapado.
¿Creer en mí? No, ni en nada.
Derrámame la naturaleza sobre mi cabeza ardiente
su sol, su lluvia, el viento que tropieza en mi cabello,
y lo demás que venga si viene, o tiene que venir, o que no venga.
Esclavos cardíacos de las estrellas,
conquistamos el mundo entero antes de levantarnos de la cama;
pero nos despertamos y es opaco,
nos levantamos y es ajeno,
salimos de casa y es la tierra entera,
y el sistema solar y la Vía Láctea y lo Indefinido.

(¡Come chocolatinas, pequeña,
come chocolatinas!
Mira que no hay más metafísica en el mundo que las chocolatinas,
mira que todas las religiones no enseñan más que la confitería.
¡Come, pequeña sucia, come!
¡Ojalá comiese yo chocolatinas con la misma verdad con que comes!
Pero yo pienso, y al quitarles la platilla, que es de papel de estaño,
lo tiro todo al suelo, lo mismo que he tirado la vida.)

Pero por lo menos queda de la amargura de lo que nunca seré
la caligrafía rápida de estos versos,
pórtico partido hacia lo Imposible.
Pero por lo menos me consagro a mí mismo un desprecio sin lágrimas,
noble, al menos, en el gesto amplio con que tiro
la ropa sucia que soy, sin un papel, para el transcurrir de las cosas,
y me quedo en casa sin camisa.

(Tú, que consuelas, que no existes y por eso consuelas,
o diosa griega, concebida como una estatua que estuviese viva,
o patricia romana, imposiblemente noble y nefasta,
o princesa de trovadores, gentilísima y disimulada,
o marquesa del siglo dieciocho, descotada y lejana,
o meretriz célebre de los tiempos de nuestros padres,
o no sé qué moderno -no me imagino bien qué-,
odo esto, sea lo que sea, lo que seas, ¡si puede inspirar, que inspire!
Mi corazón es un cubo vaciado.
Como invocan espíritus los que invocan espíritus, me invoco
a mí mismo y no encuentro nada.
Me acerco a la ventana y veo la calle con absoluta claridad,
veo las tiendas, veo las aceras, veo los coches que pasan,
veo a los entes vivos vestidos que se cruzan,
veo a los perros que también existen,
y todo esto me pesa como una condena al destierro,
y todo esto es extranjero, como todo.)

He vivido, estudiado, amado, y hasta creído,
y hoy no hay un mendigo al que no envidie sólo por no ser yo.
Miro los andrajos de cada uno y las llagas y la mentira,
y pienso: puede que nunca hayas vivido, ni estudiado, ni amado ni creído
(porque es posible crear la realidad de todo eso sin hacer nada de eso);
puede que hayas existido tan sólo, como un lagarto al que cortan el rabo
y que es un rabo, más acá del lagarto, removidamente.

He hecho de mí lo que no sabía,
y lo que podía hacer de mí no lo he hecho.
El disfraz que me puse estaba equivocado.
Me conocieron enseguida como quien no era y no lo desmentí, y me perdí.
Cuando quise quitarme el antifaz,
lo tenía pegado a la cara.
Cuando me lo quité y me miré en el espejo,
ya había envejecido.
Estaba borracho, no sabía llevar el dominó que no me había quitado.
Tiré el antifaz y me dormí en el vestuario
como un perro tolerado por la gerencia
por ser inofensivo
y voy a escribir esta historia para demostrar que soy sublime.

Esencia musical de mis versos inútiles,
ojalá pudiera encontrarme como algo que hubiese hecho,
y no me quedase siempre enfrente de la tabaquería de enfrente,
pisoteando la conciencia de estar existiendo
como una alfombra en la que tropieza un borracho
o una estera que robaron los gitanos y no valía nada.

Pero el propietario de la tabaquería ha asomado por la puerta y se ha quedado a la puerta.
Le miro con incomodidad en la cabeza apenas vuelta,
y con la incomodidad del alma que está comprendiendo mal.
Morirá él y moriré yo.
Él dejará la muestra y yo dejaré versos.
En determinado momento morirá también la muestra, y los versos también.
Después de ese momento, morirá la calle donde estuvo la muestra,
y la lengua en que fueron escritos los versos,
morirá después el planeta girador en que sucedió todo esto.
En otros satélites de otros sistemas cualesquiera algo así como gente
continuará haciendo cosas semejantes a versos y viviendo debajo de cosas semejantes a muestras,
siempre una cosa enfrente de la otra,
siempre una cosa tan inútil como la otra,
siempre lo imposible tan estúpido como lo real,
siempre el misterio del fondo tan verdadero como el sueño del misterio de la superficie,
siempre esto o siempre otra cosa o ni una cosa ni la otra.

Pero un hombre ha entrado en la tabaquería (¿a comprar tabaco?),
y la realidad plausible cae de repente encima de mí.
Me incorporo a medias con energía, convencido, humano,
y voy a tratar de escribir estos versos en los que digo lo contrario.
Enciendo un cigarrillo al pensar en escribirlos
y saboreo en el cigarrillo la liberación de todos los pensamientos.
Sigo al humo como a una ruta propia,
y disfruto, en un momento sensitivo y competente,
la liberación de todas las especulaciones
y la conciencia de que la metafísica es una consecuencia de encontrarse indispuesto.

Después me echo para atrás en la silla
y continúo fumando.
Mientras me lo conceda el destino seguiré fumando.
(Si me casase con la hija de mi lavandera
a lo mejor sería feliz.)
Visto lo cual, me levanto de la silla. Me voy a la ventana.

El hombre ha salido de la tabaquería (¿metiéndose el cambio en el bolsillo de los pantalones?).
Ah, le conozco: es el Esteves sin metafísica.
(El propietario de la tabaquería ha llegado a la puerta.)
Como por una inspiración divina, Esteves se ha vuelto y me ha visto.
Me ha dicho adiós con la mano, le he gritado ¡Adiós, Esteves! , y el Universo
se me reconstruye sin ideales ni esperanza, y el propietario de la tabaquería se ha sonreído.

Álvaro de Campos,15-1-1928 (Heterónimo de Fernando Pessoa)


11 comentários:

  1. Bom dia! Me interessei pelo clube de leitura e gostaria de participar. Porém, tenho algumas limitações de horário. Onde vocês costumam se reunir? Obrigada. Meg Presser

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Maria:
      Tudo bem? A gente se reúne uma vez por mês em Alphaville. Os encontros começam 19:30hs e duram umas 2 horas e meia. Mas é possível participar trocando comentários e compartilhando frases dos livros aqui mesmo no blog. Também temos um grupo no facebook.
      Um abraço e obrigada por nos visitar!
      Gabriela

      Excluir
  2. “Um problema com o ser velho é o de julgarem que ainda devemos aprender coisas quando, na verdade, estamos a desapre-dêlas, e faz todo o sentido que assim seja para que nos afundemos incoscientemente na inminência do desaparecimento. A inconsciência apaga as dores, claro, e apaga as alegrias, mas já não são muitas as alegrias e no resultado da conta é bem visto que a cabeça dos velhos se destitua da razão para que, tão de frente à morte, não entremos em pânico.”

    Humilde traducción al castellano:
    “Un problema con el ser viejo es el de juzgar que todavía debemos aprender cosas cuando, en verdad, estamos para desaprenderlas, y tiene todo sentido que así sea para que nos hundamos inconscientemente en la inminencia del desaparecimiento. La inconsciencia borra los dolores, claro, y borra las alegrías, pero ya no son muchas las alegrías y en el resultado de la cuenta es bien visto que la cabeza de los viejos se destituya de la razón para que, tan de frente a la muerte, no entremos en pánico.”

    Un abrazo, Gabriela

    ResponderExcluir
  3. Jogo-me ao chão em tapete por Pessoa. Tabacaria é uma obra de arte para se degustar devagar ,muitas vezes...Não é à toa que valter hugo mae colocou uma frase de Tabacaria como epígrafe para seu livro A Máguina de Fazer Espanhóis.Bravo!

    ResponderExcluir
  4. Acabei de ler a máquina de fazer espanhóis hoje cedo de manhã, Sábado de Aleluia. Ontem, quando o livro já estava com as páginas contadas, parei – ando meio sem suportar grandes tristezas, e não suportaria dormir sabendo não ter hoje a companhia deles. Deles: do livro, dos personagens, das histórias, da escrita do valter, da minha aleluia com eles.

    E continuo ainda agora de luto, precisando falar e escrever sobre todos eles.

    Estou nesse luto muito singular em que nos deixam os livros quando nos deixam em silêncio e se vão de nós assim sem mais nem oras pois, dão-nos simplesmente as costas e se vão sem mais dizer palavra. É sempre assim: mais cedo ou mais tarde, a história acaba e ficamos sós, e a história sempre acaba. Este é o paradoxo dos grandes livros: deixam-nos vazios quando nos completam. Fui então tentando me preparar à medida que via o livro se acabar muito mais rápido do que gostaria. Inútil. E, nesse caso, foi muito triste perceber, à medida que eu avançava na leitura, que os personagens avançavam na idade, e que eu sabia exatamente como a história de todos eles ia terminar.

    Ah, a metafísica. Preciso dizer que só às vezes a metafísica não me soa toda estranha. E hoje é um sábado com maiúsculas, um Sábado de Aleluia, um dia em que só baixinho se pode falar sem metafísica.

    Mas, ainda no luto desse livro, preciso dizer que às vezes a metafísica me parece mesmo o fim de toda a experiência sensível, a meta de toda a física. Porque às vezes me sinto em comunhão com o mundo – por exemplo, lendo livros, e mais especialmente lendo livros como este, esta máquina de produzir as maiores alegrias, ah, porque ele produz alegrias, sim, e produz alegrias maiúsculas, produz alegrias como as alegrias se produzem na vida: escavadas nas tristezas.

    E, amanhã, domingo de Páscoa, ‘come chocolates, pequena, come chocolates! Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.’

    Lyzia Pimenta

    ResponderExcluir
  5. E vocês acham mesmo que iríamos tão longe em leituras solitárias? Textos, poesias paralelas,
    sentimentos a transbordar,
    outros títulos,
    lançamentos,
    e....sentimentos a transbordar....
    suspiros pelo jovem autor,
    sofrimentos pelo velho protagonista...
    sentimentos a transbordar...
    e vocês acham mesmo que iríamos tão longe em leituras solitárias??
    eu respondo por mim: não, eu não iria tão longe.
    o Nosso Clube de Leitura é um presente para mim!!!!
    ler na roda é o prazer de ler multiplicado por mil!
    Cynthia Blanco

    ResponderExcluir
  6. Trecho de uma entrevista concedida pelo autor :"E por que um único capítulo de a máquina de fazer espanhois é escrito em maiúsculas e com narrador em terceira pessoa?
    Eu roubei dois personagens de Francisco Xavier Viegas, dois policiais. E naquela situação do livro, com aqueles diálogos, vi que deveria usar o jeito comum. Mas no meu próximo romance vou usar letra maiúscula, meu nome estará em maiúscula, vocês vão achar que eu virei um escritor normal"

    ResponderExcluir
  7. "quando dizemos que antigamente é que era bom estamos só a ter saudades, queremos na verdade dizer que antigamente éramos novos, reconhecíamos o mundo como nosso e não tínhamos dores nas costas nem reumatismo. é uma saudade de nós próprios." valter hugo mãe em "a máquina de fazer espanhóis"

    ResponderExcluir
  8. Adorei o livro !!! concordo com tudo o que a Lizia e a Cynthia falarom !!!
    e um livro que da muito de que falar.

    algumas frases que gostei e reproduzo:

    A descrição do dor pela morte da pessoa amada:
    "...esse é o limite, a desumanidade de se perder quem näo se pode perder. foi como se me dissesem,senhor silva,vamos levar-lhe os braços e as pernas, vamos levar-lhe os olhos e perderá a voz, tal vez le deixemos os pulmöes,mas teremos de levar o coraçao,e lamentamos muito,mas näo le será permitida qualquer felicidade de agora en diante .........quando por fin me levantei, estava a anos-luz do homem que reconheceria, e aprender a sobreviver aos dias foi como aceitar morrer devagar, violentamente devagar".

    "Era uma ideia razoável de quem fora sempre mulher e nunca percebera o mundo longe dos desígnios falocráticos de uma sociedade täo musculada".

    "deus é uma cobiça que temos dentro de nós. é um modo de querermos tudo, de não nos bastarmos com o que é garantido e já tão abundante".


    Reproduzo tambem um comentario interesante de "Kaosenlared.net
    Por Lilian Fontes Colaboração de Maria Carolina Maia"

    "A assertiva de Hugo Mãe no capítulo 19 - "fomos sempre um povo de caminhos salgados, isto é coisa para nos amargar o sangue" - mostra que o fado não nasceu por acaso e que só existe uma palavra (angústia, a última do livro) capaz de resumir o drama de uma nação que, a exemplo do velho Antonio, resignou-se ao trágico destino de um asilo do qual só sairá para o mundo dos espectros, futuro que pode esperar Portugal se não conseguir pagar suas dívidas. a máquina de fazer espanhóis é, portanto, um livro fatalista, construído com sintaxe convulsiva, prejudicada à vezes pela metaforização excessiva da situação do pobre Antonio Jorge da Silva, sempre associado à queda livre de Portugal - provocada, em parte, pela ideia de que nada muda, nem mesmo os sobrenomes".

    abraços !!
    Myriam

    ResponderExcluir
  9. Estou ainda sob os efeitos do livro e do encontro de hoje. Em encantamento. Em comunhão, nessa comunhão bem singular do mãe, essa "comunhão sem metafísica". Então, perdoem, vou fazer um segundo discurso apaixonado, OK?

    Este ano, ouvi numa aula o seguinte: "uma obra de pensamento é aquela que de dentro de si mesma suscita uma posteridade, porque o que a caracteriza essencialmente é o excesso das suas significações sobre os significantes disponíveis" (Chauí citando Ponty). O contexto era outro. Mas vale: mãe suscita, como um suspiro leve que nos incita, nos põe em marcha, uns ao encontro dos outros, que é isso o que há de sagrado e divino - o mundo.

    Ano passado, em outra aula, Marilena começou sua fala agradecendo aos amigos que haviam organizado o evento, em sua homenagem, por ocasião da sua despedida, por força da sua aposentadoria. Nesse agradecimento, ela citou La Boétie: "a amizade é uma coisa santa". La Boétie - sim, aquele mesmo, o amigo do Montaigne, que é aquele que escreveu lindamente sobre a amizade.

    E eu, eu agradeço a vocês, o Clube, e em especial a Andrea e Gabi.

    Grande beijo,
    Lyzia Pimenta

    ps1: ah, lembrei que não lembrei de falar que saindo do livro lembrei da Festa de Babette. Quem não viu, vale ver. Quem viu: nossos encontros são como uma festa de Babette literária, não?! mais beijos

    ps2: "ficámos em silêncio por uns momentos, com deus ou sem deus, debaixo do milagre da luz que nos tratava tão bem quanto às plantas. sorri sozinho. era uma abundante refeição de luz" AI QUE LINDO!!!

    ps3: o livro suscita muito... Não sei quando vou conseguir dormir, nem parar de escrever rsrsrs. Se eu tiver que postar de novo, sejam os amigos que são, sim?! mais beijos ainda

    ResponderExcluir
  10. "Não se acostume com o que não o faz feliz.
    Revoltesse quando julgar necessário.
    Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
    Se achar que precisa voltar, volte.
    Se perceber que precisa seguir, siga!
    Se estiver tudo errado, comece novamente.
    Se estiver tudo certo, continue.
    Se sentir saudades, mate-a.
    Se perder um amor, não se perca!
    Se o achar segure-o!"
    Fernando Pessoa.

    ResponderExcluir

Escriba su comentario, haga Click en NOME/URL (Nombre), detalle su nombre y gaha Click en PUBLICAR COMENTARIO.
Para deixar um comentário, após escrevê-lo, escolha a identidade NOME/URL, escreva seu nome e clique em PUBLICAR COMENTÁRIO.